O lobo branco, o lobo preto e o pastor

Existiu, num reino muito, muito distante um lobo branco, que era bom. Existiu também um lobo preto, que era mau. O lobo bom era afável, ponderado, paciente. O lobo mau era egoísta, ansioso, intolerante. E um jovem pastor que diariamente passava pelos campos assistia a esta dualidade, impassível e observador. Via que os dois lobos, de uma forma algo estranha, se completavam. Não tomava, no entanto, partido por nenhum. Apenas os observava, compreendendo a maneira de ser de cada um.

Ao lobo mau faltava a ponderação e a paciência do lobo bom, mas ao lobo bom faltava a iniciativa e o espírito de luta que o lobo mau tinha. E os anos passaram ligeiros. Os lobos cresceram, tornaram-se adultos, assim como o pastor que sempre os acompanhara à distância. O lobo branco aprendia valiosas lições com o lobo preto, e este, por sua vez, aprendia igualmente muito com o primeiro.

Lentamente, com o passar das estações, a própria cor do pêlo dos dois lobos começou a mudar de tonalidade, para um cinza muito claro e brilhante. O pastor, desde o primeiro dia, sempre vestira roupa branca como o sol.

Mais anos passaram e os três finalmente envelheceram. Um dia, pela primeira vez, o pastor aproximou-se dos dois lobos e sentou-se ao lado deles. Os animais exibiam um pêlo solto, brilhante e lindo, praticamente branco, quase tão branco como o brilho intenso que emanava agora das vestes e do corpo do próprio pastor. Então, este disse-lhes:

- " Há muito, muito tempo que vos venho observando. Vós sois as duas partes do meu ser, e eu sempre me identifiquei convosco apesar de nunca vos ter falado. No entanto, tive que me manter afastado, aprendendo à distância com o vosso crescimento. Foi a forma que encontrei para não sofrer constantemente ao longo da vida com as alegrias excessivas e com as tristezas profundas.

- Porém, agora vejo que estais cada vez mais brancos, e confesso-vos que ao observar-me hoje, apercebi-me do branco e luminoso que eu sempre fui desde o início. Simplesmente recusava-me a acreditar que fosse assim...
Agora vejo que os três formamos um só, sinto-me feliz e de nada mais preciso."

Então, o pastor e os dois lobos levantaram-se e caminharam juntos em direcção ao pôr-do-sol. O sol, o caminho de terra que pisavam, as árvores e os arbustos circundantes, todos resplandeceram por vários segundos enquanto os três desapareciam no meio de toda aquela luz...

Um pequeno índio, que brincava nesse dia nas redondezas, jura hoje, já homem feito e pela sua honra, que nesse dia e nesse instante mágico ouviu na voz do vento as palavras: "Bem vindo irmão nosso. Que Deus ilumine sempre os teus passos, para que possamos compartilhar da tua Luz. Abençoado sejas por toda a Eternidade."

E nessa mesma noite, estrelas brilharam intensamente no firmamento...